Frequentadores mais recentes de Balneário Camboriú talvez estranhem o busto de um cachorro na Barra Sul, que fica na calçada em frente a um restaurante. Pois trata-se de uma homenagem ao “político” mais querido da cidade nos anos 90, o vira-lata Sorriso, que virou lenda após uma vitoriosa campanha para deputado federal, em 1998. A história ganhou o Brasil e o mundo e terminou com final trágico: Sorriso morreu atropelado na Avenida Atlântica, meses depois das eleições.

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O lançamento do “cãodidato” foi uma brincadeira de um grupo de amigos que costumava se reunir no restaurante Kananga. Ali também era o refúgio preferido de Sorriso, um simpático vira-lata conhecido em toda a Praia Central, que era tratado com carinho por moradores e comerciantes da região. O nome veio dos dentinhos desalinhados, que o deixavam com um “sorriso” inconfundível. 

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O cachorro costumava aparecer no restaurante para beber água e ganhar algum petisco. O resto do dia, passava correndo atrás de carros e motos. Era o “xerife” da área, diz Nagel Mello Filho. Seu pai, o jornalista Nagel Mello, foi um dos responsável pela campanha de Sorriso.

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– A turma do meu pai tinha ali o seu QG, onde se encontravam os empresários, políticos e os fofoqueiros de plantão. Até que surgiu a ideia de fazer do Sorriso o “cãodidato” – conta Nagel.

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A brincadeira foi longe, e o vira-lata ganhou até santinhos, com direito uma foto-montagem em que aparece vestindo um terno e com um girassol na lapela. O slogan era espirituoso: “no calcanhar do Congresso”, e “não vote em vira-lata”. Até partido próprio o Sorriso ganhou, o PCdoBC – Partido Cão de Balneário Camboriú.

Santinho do
Santinho do “cãodidato” Sorriso (Foto: Reprodução)

Na época, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começava o processo de universalização da urna eletrônica, que havia sido usada pela primeira vez em Santa Catarina anos antes, por iniciativa do então juiz Carlos Prudêncio, de Brusque. Naquela eleição, em 1998, cidades com mais de 40.500 eleitores utilizaram pela primeira vez o voto eletrônico – foram 13 municípios em SC.

Como não tinha o número mínimo de eleitores, Balneário Camboriú ficou de fora e a eleição ocorreu com voto impresso. Foi o que possibilitou o sucesso de Sorriso. Muitos eleitores que não tinham simpatizado com a nominata de candidatos a deputado federal resolveram rasurar a cédula e votar no cachorro. O número exato é uma incógnita, mas especula-se que o simpático vira-lata teria recebido mais de mil votos.

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A história rapidamente se espalhou e Sorriso virou notícia. Primeiro, no Brasil, em diversos jornais de todo o país. Depois, no mundo. Nagel lembra que o pai falou com jornalistas da Espanha e de Portugal, que contaram a história do inusitado “cãoditado” de Balneário Camboriú.

O sucesso de Sorriso, no entanto, não duraria muito tempo. Menos de um ano depois das eleições, em junho de 1999, ele acabou atropelado. A história é controversa. Dizem que estaria atravessando a rua quando foi atingido, mas também existe a versão de que foi atingido durante uma de suas “perseguições” aos motoristas da Avenida Atlântica. A morte do cãozinho comoveu os eleitores.

– Foi como um atentado político – brinca Nagel – e rendeu mais algumas matérias a respeito. No fim, foi feito o busto, que está até hoje no Kananga.

Sorriso ficou eternizado na Avenida Atlântica junto ao restaurante, que fica próximo à Rua 3.600, de olho no vaivém dos carros que ele gostava de perseguir. Figura ilustre da política local, foi representado de terno.

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